Numa das cidades da Inglaterra existe uma antiga catedral que data dos tempos das Cruzadas. E quem visita aquela catedral encontrará ali a estátua de uma linda mulher, esposa de um dos cavaleiros que, nos tempos antigos, lutava na Palestina contra os turcos que, nessa altura, ocupavam o Santo Sepulcro em Jerusalém. Essa estátua tem um significado muito interessante, porque quem a observar atentamente, verificará uma coisa estranha. É que a mulher, embora linda, só tem uma mão. Falta-lhe a mão direita. E é neste fato singular que reside o significado da estátua. Conta-se que o seu marido foi capturado pelo cruel general muçulmano Saladim. O cavaleiro pediu-lhe que poupasse a sua vida porque, disse, tinha uma linda esposa na Inglaterra que o amava muito. Em resposta, Saladim disse-lhe que a esposa iria esquecê-lo e facilmente arranjaria outro marido. Mas, depois, mudou de ideia, e disse ao cavaleiro que o libertaria se a sua esposa, como prova de amor, enviasse-lhe a sua mão direita. Quando a esposa, na Inglaterra, recebeu a mensagem, não demorou nem um minuto, cortou a mão direita e enviou-a para o marido. Ao ver este seu gesto de amor, Saladim cumpriu a sua palavra e soltou o cavaleiro.
Entre os órgãos do corpo, as mãos são muito importantes. E, como vemos na história que acabamos de relatar, a mão direita é, quase sempre, a mais preciosa. E sabia que as mãos podem falar? Há até pessoas que, se não tivessem mãos, não poderiam falar. Estamos nos referindo aos surdos que, sabemos, têm toda uma linguagem baseada em sinais feitos com as mãos. Mas, as mãos podem falar de outra maneira, revelando certas coisas a respeito daqueles a quem pertencem. Há mãos delicadas, de artistas e de curgiões. Há, também, mãos nervosas que se esfregam aflitivamente. E há mãos fortes de homens fortes. E é sobre um destes homens que queremos falar um pouco. O homem chama-se Juan Vázquez. É mexicano e tem mãos bastante fortes.
Miguel Vázquez, rapaz de 17 anos, parou firme e sereno. Encontrava-se a dez metros do chão. Vestia-se de trapezista e possuía um corpo jovem, elástico, atrativo como um rapaz da antiga Grécia, feito só de nervos, ossos, músculos e tendões. Miguel era trapezista trabalhando com o Circo dos Irmãos “Ringling”. Naquela noite, na cidade de Tuscon, Arizona, ele ia realizar a prova máxima: o quádruplo salto mortal. Ia saltar do trapézio e girar sobre si mesmo quatro vezes a uma velocidade de 100 quilômetros por hora.
O rapaz deu o salto, girou as quatro vezes, e acabou por segurar-se nas mãos do seu irmão Juan. O público que enchia a grande tenda do circo estalou em aplausos, e assim Miguel Vázquez juntou mais uma façanha à sua carreira de artista de circo. “O que mais importa no quádruplo salto mortal”, disse Miguel, são as mãos do outro, daquele que nos agarra.
Aqui, temos toda uma parábola da vida de cada um de nós. O salto mortal – simples, duplo, triplo, e agora, no caso de Miguel Vázquez, quádruplo – é, nos espetáculos de circo, a parte mais importante do programa. Muitos trapezistas têm morrido ao tentar conseguir o salto triplo ou o quádruplo. E, segundo dizem os profissionais de circo, o que mais importa são as mãos firmes do outro, seu colega, que as espera ali no vácuo para agarrá-las.
Assim é a vida. Às vezes, somos obrigados a dar uma espécie de salto mortal. Somos forçados a saltar para o vácuo, por assim dizer, num ato de fé ou, às vezes, de desespero. A vida nem sempre se apresenta fácil, plana, tranquila e serena. Tantas vezes temos que dar um salto nas trevas. E o que importa nestes momentos duros da vida é ter, lá no outro lado, à nossa espera, umas mãos firmes, fortes e amigas. E, um dia há de chegar, pois este é o destino inevitável de todo ser humano, um dia há de chegar, dizíamos, quando todos terão de dar o último salto, o salto verdadeiramente mortal, porque a morte é verdadeiramente um salto para a eternidade. E é nessa altura que vamos precisar de umas mãos firmes, fortes e amigas. Estamos nos referindo às mãos de Jesus. Essas mãos são firmes porque nunca tremeram. São fortes, porque são as mãos de um carpinteiro. E são amigas porque foram traspassadas na Cruz do Calvário por amor de nós.
Muitas vezes, nos Evangelhos, na Bíblia, lemos das mãos de Jesus, mãos amigas que ajudaram muita gente. Vamos apenas citar um exemplo, o de uma pobre criança possuída por um demônio. Jesus expulsou o espírito imundo, e tal era a fúria do maligno que, ao sair da criança, deixou-a estendida no chão como morta. E logo encontramos as seguintes palavras animadoras, de Marcos, o evangelista: “Mas Jesus, tomando-o pela mão. o ergueu, e ele se levantou”. Caro amigo, necessitamos que as mãos de Cristo se unam com as nossas em todas as circunstâncias da vida. Somos fracos, mas Ele é forte, e se Ele nos tomar a mão, venceremos os perigos deste mundo e, finalmente, quando dermos o salto final nas trevas, encontraremos, ali no vácuo, as mãos amigas do nosso Salvador.